sexta-feira, novembro 27, 2015

Chega de veneno

Eu estou sentada em algum canto da minha mente me perguntando o que tem de errado comigo. Fumando meu cigarro como sempre, e tentando identificar que coisa há de errado. 


Me disseram para ser magra, eu fui lá e emagreci.
Me falaram para estudar, eu estou estudando.
Me falaram para ser politizada, preocupada com o meio ambiente e com as próximas gerações. Eis me aqui, sendo tudo isso.
Aí então, não satisfeitos, disseram que eu tinha que ser bem vestida, sorrir sempre e ser delicada.
Eu cortei os palavrões do meu vocabulário, comprei as roupas mais caras, fiquei loira e aprendi a sorrir e falar delicadamente e baixo.

Aqui estou, esgotada de tudo o que os homens me mandaram fazer. Aqui estou usada, manipulada, transformada e cansada. Exausta. 

terça-feira, novembro 24, 2015

...pois que seja fraqueza, então.




Calçadas ao por do sol. Amendocrem. Cigarros mentolados. Cerveja choca. Sorvete de morango. Maria-mole. Lulu Santos. Galeria do Rock. Pebolim. Hospital. Moletons com capuz. Vans. Suco de morango com leite.

Por muito tempo, eu evitei essas coisas aí que me lembravam demais ele. Por muito tempo, eu não conseguia ver alguém mais ou menos parecido com ele na rua que ficava trêmula, suando, coração acelerado. Por muito tempo eu não entendi nada, só entendi que não tinha volta. E isso era como se fosse um abismo dentro da planície de ser eu. Como se houvesse um pedaço dos meus pensamentos que não poderia nunca ser acessado, pois seria um caminho sem volta. Era assim, eu lembrava dele em flashes todo dia. Mesmo sem querer, mesmo dormindo num trem qualquer voltado de algum bar mais bebada do que é possível explicar.

O rompimento foi extremamente violento pra mim, uma explosão contra tudo o que eu acreditava. Fui morrendo, deixando de gostar de qualquer coisa, me afundando em evitar as coisas que me lembravam ele.
Foram períodos sombrios, como quando você está em um ambiente que não é exatamente escuro e você consegue ver algumas coisas através de sombras e só se prestar extrema atenção. E prestar extrema atenção cansava tanto...
O fundo do poço foi quando notei que todas as coisas que eu gostava antes de conhecê-lo deixaram de fazer sentido, pareciam vazias e artificiais, forçadas. Mas porra! Aquilo era eu! Aquilo era parte de mim!

Então as coisas que eu evitava, parei de evitar. Ouvia Lulu Santos todo dia. E de repente me vi gostando de suco e sorvete de morango. Era como me deliciar de um pedaço dele contra sua vontade. Como de uma certa forma, te-lo de novo comigo. E então eu quase ouvi o som do riso dele, como sininhos, que quando ria me deixava até vermelha, o dia que fumei um cigarro mentolado vendo o por do sol tomando uma cerveja choca e usando moletom de capuz. Eu me livrei de tudo o que me prendia! As coisas que me lembravam ele estariam me rodeando o resto da vida, e eu não podia parar de viver e morrer de tristeza por lembrar sempre que ele continuava existindo com o sorriso maravilhoso e as camisetas verdes sem ter eu por perto. Eu adotei a tristeza que aqueles itens me trazia, e me fortaleci com eles, me deleitando com a perda a cada elemento.


E quando já não precisava mais, estava eu saindo do prédio onde trabalhava e vejo ele. Ele. Não alguém parecido com ele, não um rapaz de camiseta verde. Era ele, pessoalmente, ao celular, sorrindo e conversando. Minhas pernas amoleceram, eu voltei para o prédio. Lembrei de tudo, todas as vezes que dormi cheirando a camiseta da Irlanda que ele esqueceu em casa. A tristeza que cada elemento me trazia. E lembrei o mais importante: eu tinha voltado para mim. Se era feita de tristeza, era outra história. Saber que ele estava lá fora, sorrindo o meu sorriso para alguém, nem me interessava. O meu "ele" não existia mais. Morreu junto com o nosso "nós".


Então eu saí. Ele ficou olhando e eu segui. 
E continuo seguindo.














***esta crônica faz parte de um conjunto de crônicas que tratam dos mesmos personagens, todas identificadas com o marcador "Janeiro"***