sábado, dezembro 08, 2012

O rompimento

E então eu voltei a sentir aquela dor. 

E a culpa toda era da Irlanda! 
Janaina tinha ido a Irlanda ao mesmo tempo que ele. Ao mesmo tempo que não nos falávamos mais. 
O fato é que todos nós acabamos indo para um canto do mundo dentro de um ano após o rompimento. 
Vinicius foi a Bangladesh, estava gordo e de cabelos curtos. Ele também não falava mais comigo. 
Denis tinha ido para a Argentina e por lá ficou. Finalmente achou quem o amasse. Eu nunca tive competência nem para isso, e ele tem razão em me achar uma idiota. 
Alice voltara pouco tempo do Canadá. Eu, particularmente sempre detestei o Canadá. Gente fria, lugar frio. 
Alice estava bem diferente. Como todos nós estávamos, é claro. Mas a mudança dela, embora carregada de traços antigos, era a mais notável. 
Fumava. Era loira agora, preocupada com a aparência, com homens e com roupas de grife. O exterior engoliu minha amiga de outrora. 
Alice estava mais próxima do ser atual que ele se tornara do que eu jamais estarei. 

Sempre permaneci longe, e a distância foi aumentando. Até sendo a melhor deles todos, até sendo a mais próximas de todas as pessoas do mundo, eu ainda era a mais distante. Porque quanto mais eu queria me aproximar dele, mais distantes do que o que eu queria eu ficava. 

Ele tinha ido para a Irlanda no mesmo período que Janaina. Então, me senti na obrigação de estabelecer o meu bem estar novamente perguntando a Janaina se eles tinham se encontrado lá. Não fez diferença alguma saber que sim ou não. Ele era obcecado pelos pés dela, e já tinha me falado várias vezes. 

Tive devaneios por meses sobre ele beijar os pés dela num chalé na Irlanda, com aquelas cordilheiras frias cercando o lindo casal que eu jamais saberia. 

Por fim, eu tinha ido para o México. Alice me parabenizou pela escolha, a Alice de antes realmente gostaria de ir a uma periferia ao invés de um lugar desenvolvido. Mas esta nova Alice só se importava em saber quanto eram os preços do Carolina Herrera por lá. 
Eu tive uma viagem fora de série. Muita bebida, tradições, ervas, comidas exóticas, falhas na minha saúde quase inabalável. Sempre digo que as coisas se dividem entre antes e depois do México. 

Mas enquanto eu bebia até rodar na Baja Califórnia, ele continuava rindo com aqueles dentes que eu amava e com o som de sininhos que tocava no pé do ouvido. Aquele tamanho todo, preso dentro de camisetas verdes que ele colecionava. 

Eu ainda sentia falta de quem ele era. 




***esta crônica faz parte de um conjunto de crônicas que tratam dos mesmos personagens, todas identificadas com o marcador "Janeiro"***

sexta-feira, novembro 16, 2012

Non Dvcor Dvco

Eu acho sinceramente que pra quem sabe o que quer em São Paulo, não há lugar melhor no mundo. Tudo que se precisa pra viver bem, existe aqui. É claro que temadversidades. Mas existe um ar na cidade de São Paulo que não importa com quem esteja, não importa como esteja, é único. E você sente isso, você se sente assim. Da Lapa a Santo Amaro, de Santana ao Morumbi, ou até no Tatuapé, São Paulo te faz sentir mais humano, te faz sentir da mesma forma que você queria se sentir quando era criança e pensava em quando seria adulto.


Tenho boas histórias na Lapa, momentos únicos de reflexão pessoal, de desenvolvimento amoroso e intelectual, amadurecimento mesmo. Daí, na Barra Funda, eu tive alguns momentos em que geralmente denominamos "caindo a ficha", que foi quando eu tive certeza do que queria fazer na vida, e em Perdizes, não longe dali, eu fiz uma projeção do meu futuro, quando vi as belas casas e o nível das pessoas que por ali habitam. Mas não posso negar que a República é a minha parte preferida. Não importa quando, ali sempre se tem paz. Estive certo dia por lá, num sábado chuvoso, daqueles bem tipicamente paulistanos, e é incrível como sempre me surpreendo quando ando por ali. Haviam três músicos, dois com dois instrumentos de sopro e um na percussão, com um caixa improvisada. Executaram uma música por cerca de 15 minutos, com uma euforia contagiante, para um público de no máximo 20 pessoas que passavam na rua e pararam para vê-los. Eu adorei aquilo, a música era ótima, fiquei seriamente tentada a ir morar por lá.


O centro velho de São Paulo é perfeito para mim. É claro que como qualquer outra cidade normal do estado, ela possui vários mendigos, lixo, sujeira a beça. Mas ela compensa com a beleza da sua arquitetura, com toda a história que tem impregnada em si. Nunca vou me esquecer da minha primeira vez na Luz. Ao sair da estação de metrô, eu já logo dei de cara com um grafite enorme de mais de 5 metros num prédio antigo, era o rosto de uma mulher dos anos 20, estilizado tipo histórias em quadrinhos. Já vi o sol nascer ali no centro velho, na São Bento, no viaduto Santa Ifigênia, foi um dos momentos mais lindos da minha vida.

Você pode até pensar que eu só estou dizendo tudo isso sobre São Paulo porque não conheci bem os outros lugares, ou até porque mal saí daqui. Mas eu duvido me mostrarem cidade mais linda que a minha, tanto duvido que já procurei encontrar, mas mesmo viajando, eu nunca vi beleza em nenhuma outra.

Não poderia terminar sem falar da Sé, sem falar da São Bento, da Praça João Mendes. Os sebos são encantadores, na primeira vez que entrei num dos sebos lá na Sé, estava tocando a versão original de Maracatu Atômico do Gilberto Gil de um LP, no andar superior, que é onde eu tinha mais interesse por ser onde ficavam os clássicos da literatura. Eu fiquei metade do dia lá, vendo os carros passarem na janela, o ar gelado do dia cinza entrando, vendo aqueles livros tão impregnados de tempo apreensivos pra que eu passasse os olhos sobre eles, e ouvindo boas músicas. E a tardinha, eu fui no Café Girondino, comer aquele Strudel de maçã, com café preto sem açúcar, vendo sorrisos, vendo futuros, vendo satisfações.